Eu juro que gosto de citar as fontes das coisas que eventualmente escrevo, mas dessa vez não vou conseguir.
Explico.
Há alguns meses li em algum lugar (e não me lembro onde) um texto sobre um dos grandes triunfos do Google: a sua relevância. O artigo dizia que o Google cada vez mais aproxima o usuário a resultados de seu interesse, usando o histórico de pesquisa daquele usuário para determinar o que particularmente será mostrado na busca.
Acho isso ótimo, mas notei um porém.
Quer dizer, se eu estiver fazendo uma busca procurando por uma receita de carne assada, o Google pode usar todo meu histórico (das pesquisas que fiz enquanto logado, que são a maior parte) e determinar qual receita provavelmente vai me agradar. Assim eu irei rapidamente visualizar o link, clicar nele, sair do Google para consumir minha informação e nem mesmo vou agradecer este grandioso buscador que me deu um resultado tão certeiro.
Como sou ingrato, aliás, heim?
O lado ruim nessa história toda é o seguinte: como evitar que o conhecimento e o consumo de informações fiquem cada vez mais homogêneos em relação aos nossos interesses?
Digo, se eu tenho uma tendência a clicar apenas em links que dizem provar a existência de discos voadores (como afirma o Renê Fraga), eu não faço dessa forma o Google ficar viciado em apenas me mostrar links que dizem que os discos voadores existem?
A gente sabe que 92% das pessoas não passam da primeira página do buscador e, com isso, estamos cada vez mais submissos em relação aos primeiros resultados entregues.
Será que isso, em último nível, não poderia frear nosso acesso a novos pontos de vista, já que estamos recebendo informações baseadas nos nossos interesses –ou opiniões- que foram previamente concebidos?
Será que o Google sabe separar o que é uma busca por uma receita de assado e uma busca por conhecimento político ou polarizado que pode tecer minhas opiniões?
Será, que será, que será, que será?
Enfim, tenho certeza que o Google se preocupa muito com isso e não quer nos transformar em robôs que se auto programam e ficam presos em seus próprios conceitos, mas acontece que todas as buscas que faço no Google estão ultimamente concordando comigo, e o mais curioso é que as pessoas de verdade nunca concordam.
Acho que só o Google me ama.
30 comments
muito bom …
O Google só discorda de mim quando digo que os preços de livros e filmes na Play Store são abusivos :s
quando eu quero algo diferente e ainda relacionado aos meus gostos eu uso o stumbleupon
Ótima reflexão, com um ótimo desfecho irônico no estilo “Forever Alone”. Muito bacana o texto mesmo =)
@strong_wind obrigado :)
O intuito da Google em conhecer seus cliente em suas preferências de buscas é unica e exclusivamente direcionar propagandas e anúncios que “possam te agradar”. Somente isso. a Questão de concordar com vc é consequência. Mas… quem quer informação consegue achar, na verdade o Google está te dando o que vc quer… Se vc fizer a busca de forma correta ele irá mostrar… a auto crítica é sua mesmo… Se questione, duvide das certezas que vc tem… independente da Internet.
@danielsantosdns
@danielsantosdns eu concordo com vc a respeito dos anúncios. Sobre as buscas, a grande questão é que estamos ficando preguiçosos demais pra fazer uma bisca tão afinada. Estamos, aos poucos, nos condicionando a resumir tudo em poucos termos e clicar em um dos três primeiros resultados. Por enquanto estamos apenas nos acostumando, daqui um tempo isso já pode ser automático…
@LucasJim Sim, tem toda razão.
Hoje em dia estamos a costumando a ter tudo mastigado, resumido e a pronta entrega. Isso sim assusta. Mas… é a tendência mundial, não só Google
Agora que vcis foram perceber isso??
“tenho certeza que o Google se preocupa muito com isso e não quer nos transformar em robôs que se auto programam e ficam presos em seus próprios conceitos”
Concordo inteiramente com essa sua frase. O Google realmente não quer, de forma alguma, que fiquemos presos aos nossos próprios conceitos. Ele quer é que fiquemos presos aos conceitos dele! rsrs
@LucianoCarvalho pois é! Mas vamos lembrar que ficar preso a nós mesmo é tão perigoso quanto ficar preso a conceitos de terceiros. O conhecimento global e acessível é que é o ideal.
Duas coisas:
Primeiro: nem sempre isso funciona, por várias vezes empresto meu computador para outra pessoa usar e um site que ela visita na minha conta a Google começa a me confundir com ela, enche as sugestões de videos do YouTube com os que não tem nada a ver com o que eu gosto. Pesquisas que não são de meu agrado, como trabalhos escolares, pesquisa para provar minha opinião em algum site, etc, fazem o mesmo.
Segundo: A Google não é essa Brastemp toda: recentemente tive que usar tudo o que eu aprendi no meu <a href=”http://www.google.com/insidesearch/landing/powersearching.html”>curso de como usar a Google</a> só para encontrar um arquivo que quase nenhum site tem. Por mais que eu use termos específicos ele insiste em procurar por “sinônimos” e encontra um milhão de coisas que é exatamente o que eu não quero. Se eu uso aspas ele não encontra nada. Por fim só encontrei lá pela página 5~6 em uma pesquisa com vários operadores de exclusão.
<I>( eu ia falar mais uma coisa mas esqueci o que era quando mudei a página… )</i>
Desculpem pelo comentário duplo, mas me avisem quando o sistema de comentários não é uma maravilha como o do WordPress. Só um teste: Aqui suporta Markdown? *teste* **teste** ( acho que não );
@qgustavor Quanto a primeira coisa, é só vc retirar seu login. Eu trato meu login como uma senha de banco… Não tem dinheiro lá, mas tem muita informação que com certeza terei mais prejuízo do que um ataque em minha conta bancária que não tá lá essas coisas. rs Quando vc acessa o internetbanking, vc empresta o computador pra alguém com ele “logado”? Acredito que não né?
A Segunda coisa, até hj, utilizando ferramentas do próprio Google, sempre acho o que quero, não achei nenhum outro buscador com melhor resultado ainda. Mas… não me engano como muito, que se não encontram no Google dizem que não existe. rs
Posso estar enganado… mas quanto mais preciso for o mecanismo de busca, menos páginas de resultados a serem visitadas… menos páginas visitadas, menos anúncios e menos cliques…
Acredito que isso passa longe da realidade! Dê uma lida nas matérias sobre o Google Now e veja que ele quer trazer os resultados mais propensos, ou seja, se você pesquisa por Steve Jobs na coluna da direita estará a biografia dele o ano que nasceu, morreu, onde morou, trabalhou etc… Agora na coluna da esquerda você terá os resultados mais visitados e mais propensos há você, MAS CASO você queira saber outra questão continue procurando nos 000000GLE….
@jonathantts 92% das pessoas não saem da primeira página e a maioria dessas que fica clica nos primeiros resultados. A preguiça que ajuda a ferramenta a ser “tendenciosa”
Baseados em logarítmos ou outras formas de filtrar o que realmente nos interessa ou o que nos estimula a obter mais conhecimentos. Penso que o Google não está tão interessado na segunda opção. A proposta inicial do buscador Google é facilitar e entregar o que procuramos o resto fica por nossa conta, no caso, assimilar os conteúdos dos primeiros resultados ou ir em frente. O Google é o Google mas mesmo assim só considera as relevâncias conforme o que digitamos naquele buscador. Ele não é um Professor e sim um Oráculo. Um professor se preocupa em nos ensinar e um oráculo simplesmente nos dá a resposta.
Recomendo assistir a esta TEd Talks do Eli Parisen: http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html Eli Pariser: Beware online “filter bubbles”
@pasqualon A fonte deve ser esse vídeo ou a pesquisa do cara sobre Filtro Bolha
O Google é uma ferramenta. Se quer ter acesso a outros pontos de vista procure por eles (se só gosta de comer no MacDonalds um sanduíche do Subway não vai aparecer magicamente lá), converse com pessoas, leia mais, etc. E assim como você aprendeu a encontrar o que deseja no Google (pois ele não é perfeito), sugiro aprender a colocar em cheque as próprias ideias. Até mesmo com o Google, por exemplo, procurando coisas como, “criticism <aquilo que você ama>” no Google.
@Witaro Perfeito, Witaro. A preocupação não é em relação a isso, pois nossas escolhas sempre estarão a nossa volta. A preocupação é com nossa dependência dos mecanismos de busca, submissão a eles e preguiça. Com isso, o Google se torna nossa única fonte de pesquisa, e pode limitar nossas opções.
Isso sim é ser forever alone!
Esse recurso do Google me assusta um pouco, não é legal tu fazer uma busca e aparecer em primeiro lugar os sites que você visita quase sempre, só porque você os visita, tem vezes que quero encontrar informações em outros sites, mas aí só olhando nas outras páginas, coisas que poucos fazem.
Uma das idéias por trás do DuckDuckGo é justamente esse, te proteger dessa bolha e homogeneização de resultados.
Recomendo dar uma olhada:http://duckduckgo.com/about.html
http://dontbubble.us/
É um ótimo mecanismo de busca, vale a pena dar uma olhada =)
Parabéns pelo texto.
@filaruina Ia comentar exatamente isso: http://dontbubble.us/
@filaruina Também ia comentar aqui sobre o DuckDuckGo, para mim a única coisa que ainda peca no DDG é que ele não suporta o nosso idioma ainda.
Ótimo tópico!
Tem uma palestra do TED que fala justamente sobre isso: http://www.ted.com/talks/eli_pariser_beware_online_filter_bubbles.html
E eles dão até um nome para isso: “filter bubbles” :)
Um Video para ilustrar de forma mto boa o que esta descrito de forma mto boa!
Se não me engano basta desativar o Google History de sua conta e mesmo se vc estiver logado ele não vai lhe trazer resultados baseados em resultados anteriores…
Para desativar -> https://history.google.com/history/settings?hl=pt-BR