Na última sexta-feira, o Renê Fraga repercutiu aqui, a decisão da Google de participar do leilão de venda do espectro de 700 Mhz nos Estados Unidos.
Tratava-se de uma notícia esperada, mas, nem por isso, menos importante.
Geralmente, nós que acompanhamos a atividade dos grandes buscadores de Internet, não costumamos dar muita importância a este tipo de coisa, porque não representa serviço imediato ao consumidor. Entretanto, precisamos ficar muito atentos a este movimento, porque o resultado deste leilão poderá gerar uma verdadeira revolução na forma como se fazem telecomunicações no mundo e, via de consequência, mudar toda a nossa relação com a telefonia a a Web.
Não é certo que isto venha a acontecer, mas é um cenário possível e tentaremos aqui explicar para você.
A televisão digital nos Estados Unidos será obrigatória em todos os canais em 2009. Atualmente, como começará a acontecer hoje no Brasil, as emissoras transmitem em canal analógico e também em canal digital, ocupando duas faixas de espectro. Em 2009, passarão a transmitir apenas em sinal digital, pelo que ficará liberado o espectro de canais analógicos (700 Mhz).
O órgão regulador de telecomunicações dos EUA decidiu tomar de volta estes canais e licitar o espectro para uso em telefonia e Internet de banda larga móveis.
Durante todo o ano de 2007, foram discutidas as regras do leilão para venda desta banda, que acontecerá no dia 24 de janeiro de 2008. Foi intensa a disputa pelas regras a serem adotadas pelos vencedores no leilão, porque este espectro é tecnicamente muito poderoso (serve para celular, Wimax e outros tipos de telecomunicações móveis, além de possuir um sinal apto a atravessar paredes) e também ser a última banda de telecomunicações móveis não providas por satélite a ser licitada naquele país.
É importante lembrar que hoje toda a Internet é provida por empresas de Telecom, sejam via satélite, por cabo de TV, por cabo de telefonia fixa, por cabos de telefonia de longa distância, por telefonia móvel ou por sistemas Wi-Fi/Wimax. Entretanto, até agora todo o acesso à grande rede foi dominado pelo computador. Este quadro tende a mudar. Espera-se que, a partir de 2008 em diante, cada vez mais o acesso se dará por smartphones e, logo, por telefonia móvel. As empresas de busca na Internet estão em meio a um cabo de guerra com estas empresas, que buscam uma regulamentação para o tráfego, que permita ofertar maior velocidade na oferta de resultados àqueles provedores de conteúdo, que pagasse mais. Se vencedor o lobby das telecons, os resultados de busca ficarão muito contaminados e as verbas de publicidade serão divididas entre os buscadores e as telecons, para garantir um resultado melhor para os anunciantes.
Assim, ao mesmo tempo em que Google, Microsoft e Yahoo! são os maiores clientes de empresas como AT&T, Verizon e Comcast, começam também a se tornar potenciais competidores.
Assim, este leilão passou a tomar uma importância muito grande para o futuro da indústria, porque poderá definir o seu futuro.
Na definição de suas regras, o Google obteve uma grande vitória: os vencedores do leilão serão obrigados a suportar padrões abertos nos sistemas operacionais dos aparelhos móveis. Isto hoje não ocorre em nenhum país do mundo.
A consequência imediata desta vitória foi o lançamento do sistema operacional Android e, não tenho dúvida, levará ao surgimento de vários modelos de GPhones, apesar disto ter sido negado pela empresa.
O anúncio do Google de que amanhã, 03/11/2007, fará sua inscrição para o leilão, muito provavelmente do chamado bloco c, do espectro de 700 Mhz (poderá optar por outro bloco menos importante), mostra que ele está disposto a pagar, pelo menos USD$ 4,6 bilhões pela licença. Há quem diga, entretanto, que a disputa será tão acirrada, que o Google poderá pagar mais de USD$ 10 bilhões apenas pelo direito de montar sua própria rede de Internet e telefonia móveis. Aparentemente, as empresas de telecom não deverão ficar paradas, esperando passivamente o Google tomar parte de seu negócio e os preços deverão ser mesmo elevados.
Mas o que o Google ganharia com esta briga, entrando em um mercado que não conhece e imobilizando aproximadamente USD$ 17 bilhões, sem a certeza do retorno imediato?
Há quem acredite que o Google optará se associar a uma empresa já estabelecida, seja por meio de simples parceria comercial, seja por meio de fusão ou aquisição. Entretanto, se o Google conseguir as licenças e resolver montar ele mesmo uma Google Telecom, o que parece ser uma estratégia mais que possível, ele terá grandes desafios a vencer. Por outro lado, em quaisquer destas situações, teria como vantagens, de um lado, a possibilidade de se ver independente em parte das empresas de telecom, que não mais poderiam tentar cobrar dos anunciantes pelo tráfego na rede, sob pena de todos migrarem para a rede do Google e, por outro, pela possibilidade de expandir rapidamente a sua estratégia de buscas móveis, via sistema operacional Android e smartphones ditos gPhones.
Especula-se até que uma futura Google Telecom poderia ter como modelo de negócios o fornecimento de banda larga, tanto para celulares 3G como para computadores (wi-fi, wimax ou outra tecnologia similar), sem a cobrança de tarifas, ou, pelo menos, com seu parcial subsídio. Em outras palavras, os serviços de rede poderiam ser custeados por publicidade. Fala-se também que os próprios gPhones poderiam ser em parte ou no todo custeados por publicidade. Além do mais, possuindo a sua própria rede, poderia o Google expandir, numa escala sem precedentes, a sua estratégia de fornacimento de software como serviço (Google Apps), isto sem contar que poderia também entrar no mercado de IPTV. Obviamente, nada disso ainda pode ser confirmado, mas é apto a gerar verdadeiros calafrios nos executivos das empresas de telecom, que veriam as bases de seu negócio serem totalmente alteradas por um novo e revolucionário modelo de negócios e de prestação de serviços. E o que é pior: contra esta estratégia eles não poderiam brigar em igualdade de condições, porque não teriam a ofertar os mesmos serviços que o Google, logo, não teriam as mesmas sinergias.
Você deve estar se perguntando: mesmo que tudo isto aconteça, como poderá revolucionar a indústria de telecomunicações em todo o mundo, se a Google Telecom teria licenças de operação apenas nos Estados Unidos?
A resposta é simples. Nos Estados Unidos seria apenas o começo de uma grande mudança, que, fatalmente, e irradiaria pelo resto do planeta. Já há notícias de que o Google pensa em entrar neste mercado no Reino Unido. Historicamente, os modelos da indústria de telecom dos EUA costumam ser copiados, mais cedo ou mais tarde, pelo resto do mundo. Ademais, na próxima década, nos países em desenvolvimento, principalmente China e Índia, haverá mais pessoas acessando a Web por dispositivos móveis que por computadores e nos países pobres (África, principalmente), não se espera o crescimento de Internet por outro meio que não pela telefonia celular. Aqui no Brasil mesmo haverá leilão para banda 3G em breve.
Assim, podemos estar certos de que provavelmente o Google não terá uma operadora em todos os países do mundo, mas poderá irradiar um modelo totalmente novo de exploração do serviço de telecom (talvez baseado em pagamento no todo ou em parte do telefone e ou das ligações por meio de publicidade), que, se mostrar economicamente viável, revolucionará toda uma indústria, obrigando as empresas tradicionais a mudar os seus planos de negócios e acabando por revolucionar até mesmo a própria estrutura sobre a qual se assenta a própria Internet.
Diante disso, devemos ficar atentos a todos estes movimentos, até o dia 24/01/2008, quando deveremos ter o resultado do leilão do espectro de 700 Mhz nos EUA. Nós aqui do Google Discovery tentaremos informar você de tudo de relevante, que acontecer até lá.
Update: Todd Dagres, da empresa de capital de risco Spark Capital, disse hoje, 03/12/2007, à Bloomberg, que o Google poderia ter como estratégia apenas entrar no leilão, ofertando o lance mínimo de USD$ 4,6 Bilhões, com vistas a deixar que as gigantes Verizon e AT&T brigassem pela licença. Desta forma, o Google garantiria uma Internet com padrões abertos, sem ter que construir a sua própria rede.
Sem dúvida, trata-se de uma possibilidade. Entretanto, poucos analistas acreditam nela.
Talvez, logo depois da pré-qualificação dos candidatos aos blocos do espectro, não tenhamos uma idéia mais clara quanto à estratégia dos diversos competidores. Afinal, ninguém espera, mas em uma situação absurda, as grandes operadoras poderiam até deixar o Google sozinho no bloco C e, aí, ele seria obrigado a montar a sua própria operadora. Mas, repito, por esta hipótese ninguém espera.
2 comments
Pasmo…
mais uma prova de que os loucos da google vao dominar o mundo da comunicação…
federal
muito bom , a google ta com tudo e vai ganhar , eee tem vaga ai!!!!