Por que a possível união entre a Google e a Salesforce é importante?

Muito tem sido dito nas duas últimas semanas sobre uma breve integração das plataformas da Google e da Salesforce. Ontem, inclusive, circulou pelos noticiários econômicos de Wall Street que a gigante das buscas e a poderosa fornecedora de soluções de CRM (Customer Relationship Management) via Internet fariam, na próxima terça-feira, dia 05/06/2007, um comunicado conjunto, de uma parceria.

Ainda não se sabe qual seria o tipo de parceria, se apenas o uso conjunto de determinados aplicativos, se a compra da Salesforce pela Google, ou se a fusão de ambas por meio de troca de ações. Tratarei disso posteriormente.

Primeiramente, pretendo fazer um exercício de futurologia, para procurar entender as razões deste interesse. Devo esclarecer que, por se tratar de uma previsão de fatos futuros, contando com dados restritos, está sujeita a grandes falhas. Entretanto, é baseada em elementos da economia mundial e da evolução da indústria de TI. Isto me permite acreditar que o caminho pode muito bem ser este mesmo, mesmo que, eventualmente, não venha a se concretizar.

A Google é uma empresa, que parece ser focada no negócio desenvolvimento e venda de software, mas que, na verdade, é focada em mídia, conforme ensina John Battelle, seu livro A Busca. Uma poderosa e diferente indústria de mídia, que conseguiu atingir os pequenos anunciantes, usando a via da cauda longa propiciada pela Internet. Entretanto, ela já domina cerca da metade deste mercado e logo não vai sobrar percentual mercadológico para ela crescer. Ademais, o que é pior, a Google está focada demais neste mercado de mídia e precisa rapidamente se tornar uma empresa de software e serviços, da mesma forma forma que a Microsoft precisa diminuir sua importância no mercado de software e aumentar sua participação no mercado de buscas e mídia.

Neste mercado de fornecimento de aplicativos e serviços de software a Google ainda está engatinhando, pois somente é forte em e-mail. Possui também editor de textos, planilha, blog, agenda, chat, páginas de internet e mais algumas pequenas aplicações acessórias a estas, mas não passa disso. Mesmo o editor de textos, a planilha e o Google Talk precisam grandes aprimoramentos, para se ombrearem aos da Microsoft. Isto, sem contar que há ainda a resistência dos usuários em usar produtos não localizados em sua estação de trabalho. As boas notícias são que estes aplicativos estão em plena evolução e, por suas características, poderão vir a ser mais atrativos que os concorrentes, porque poderão incorporar, além das funcionalidades já conhecidas, outras somente possíveis em produtos baseados na Internet (ex: o integração da planilha com buscas na Internet e com wiki).

A Google, se quiser entrar realmente no mercado de prestação de serviço para pequenos e médios negócios, terá que partir para o fornecimento de serviços de CRM, ERP (Enterprise Resource Planning) e ECM/GED (Enterprise Content Management/Gerenciamento Eletrônico de Documentos) via Internet, ou seja, criar uma plataforma inexistente no mercado de relacionamento com clientes, administração de negócios e gerenciamento eletrônico de documentos toda voltada para a Internet.

Hoje, quem chega mais perto desta plataforma é justamente a Salesforce, que não possui ERP e ECM/GED, mas é forte em CRM via Internet e esta começando a sentir a concorrência da Microsoft, com sua plataforma Dynamics CRM. Por mais que a Salesforce seja muito competente e grande, e é, ela será esmagada pela Microsoft, se não se aliar com um outro gigante. Ademais, ela não possui os aplicativos, que a Google possui (editor, planilha etc) e que os seus clientes precisam.

Não bastasse isso, a infra-estrutura de banda e poder de processamento da Google é uma segurança para a Salesforce e para seus clientes, o que poderia fazer crescer sua base de clientes.

Não podemos nos esquecer também que a Google quer contratar 10.000 empregados neste ano e a Salesforce viria com mais de 2.000, para o cumprimento desta meta.

A experiência da Salesforce seria o ponto de partida para a Google iniciar o desenvolvimento de um produto de ERP e outro de ECM/GED, num único pacote, voltado a pequenos negócios. Seria um ótimo negócio, pois este seguimento de mercado não é atendido pelas grandes empresas produtoras destes sistemas, que são muito caros.

Com uma plataforma como esta, na Internet, e com a possibilidade de uso também fora da rede, com o Google Gears, poderia revolucionar a administração das pequenas e médias empresas. Afinal, a união Google + Salesforce poderia permitir que serviços de contabilidade, por exemplo, pudessem ser terceirizados para prestadores de serviços no mundo em desenvolvimento, como a Índia (em maior grau), o Brasil e a China, quando não feitos pela máquina e a intermediadora poderia ganhar algum percentual disso. Além disso, estas empresas, sendo administradas com a mesma tecnologia que as grandes, passariam a crescer mais e poderiam se tornar grandes, fazendo crescer as próprias funcionalidades e a base de dados do produto.

Diante disso, eu pergunto: não seria isso o tão falado Google Drive?

Depois de vermos as potencialidades do negócio, nos resta ver como ele poderia se realizar.

Como já dito, há três formas de se fazer esta união de interesses. A primeira seria a simples parceria estratégica, na qual a Salesforce forneceria a seus clientes os produtos Google e vice-versa. Não acredito nela, porque não dá musculatura à Salesforce na competição com a Microsoft e não dá à Google uma plataforma de CRM própria. Mas é possível.

A segunda seria a fusão de ambas com troca de ações e a terceira a compra da Salesforce pela Google. Em ambas, haveria integração de plataformas e daria musculatura a elas na competição, que agora deixaria de ser apenas com a Microsoft, para ser também com a IBM, a Oracle, EMC e SAP (que pode estar sendo comprada pela Oracle), entre outras. E num terreno, que estas empresas não conhecem bem e que a Google domina, que é a Internet, mas num tipo de tecnologia que a Google não domina, que é a gestão de negócios, documentos e clientes. Estas duas opções são as mais prováveis de ocorrer. Eu não arriscaria até dizer que a probabilidade maior seria a da compra do controle acionário da Salesforce, porque a Google está com muito dinheiro em caixa e os garotos de Mountain View são bastante atirados, apesar do que o preço da Salesforce ser de US$ 5,53 Bilhões (cotação de fechamento do pregão de 01/06/2007, da Nasdaq), um preço bastante elevado e da quantidade de investimentos, que serão necessários ao longo dos anos, para se criarem as plataformas de ERP e GED (talvez até com a compra de outras empresas).

A análise que faço é baseada em elementos econômicos. Entretanto, por não sabermos a estratégia das empresas, poderá não se realizar. Entretanto, se ocorrer, um novo mercado se abrirá, com a possibilidade de as pessoas físicas e os pequenos e médios negócios se beneficiarem diretamente da globalização pela via dos softwares de CRM, ERP e GED, além da terceirização de serviços e de centros de dados, o que, até hoje, somente está acessível aos grandes.

É esperar para ver.

Rômulo de Araújo Mendes é Juiz de Direito em Brasília e especialista em Direito Eletrônico.

3 comments
  1. Se realmente rolar essa união entre o Google e a Salesforge a Microsoft está perdida! Veremos um impérior cair aos nossos olhos… Bill Gates 3º que se prepare!! Romulo obrigado pelo post enriquecidor neste excelente blog…

  2. Roberto Dellvale,
    Muito obrigado pelo comentário.

    Renê Fraga,
    Você tem razão. Acaba de sair o anúncio oficial por parte da Salesforce, ainda não confirmado oficialmente no blog da Google. Entretanto, as primeiras análises do mercado financeiro americano foram de decepção, porque esperavam uma fusão ou aquisição. Entretanto, nem mesmo o uso do Google Apps pela Salesforce será feito, mas apenas uma parceria de uso de AdWords.
    Esperemos para ver se como a Nasdaq vai reagir hoje. Afinal, desde que surgiu o boato da compra da Salesforce pela Google, as ações desta última não param de subir, tendo fechado ontem em US$ 507,07, o maior valor de fechamento de pregão de sua história, tendo tido um pico “intraday”, também ontem, de US$ 513,00.
    Será que os investidores gostarão?
    Abraços,
    Rômulo

Comente!

You May Also Like